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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Um Olhar do Alto da Serra de Bornes". ESCRITO POR SILVINO POTÊNCIO, PORTUGUÊS RADICADO EM NATAL/RN.


De: S.S. Potencio …

 (em homenagem ao aniversario de nascimento do Poeta Miguel Torga, deixamos aqui este texto recentemente revisado)  


  • Ø  Um Olhar do Alto da Serra de Bornes. 

- Quando alguém perguntou ao Dr Adolfo Correia Rocha, o que ele achava do movimento dos militares, na manhã de 25 de Abril de 1974, ele respondeu,   não como médico mas sim como o escritor “ Miguel Torga”!!!:

 O 25 de Abril, a par do sentido de libertação traz-me algumas desilusões – as perseguições, a procura de lugares… A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.

E é, com esta ironia e esta descrença previlegiada que ele relata conversas que os políticos tiveram com ele, na vã tentativa de arregimentar um peso-pesado da Literatura Lusitana,  para as suas hostes, independentemente da sua convergência ou divergência pessoal no plano partidário.

Sabemos que ele presidiu a primeira reunião da Região Centro do Partido ”Xuxialista”, nos primórdios de tais acontecimentos à luz do dia, tão diferentes de alguns anos antes, onde o “home” ia preso apenas por pensar em liberdade, contudo ele declarou – logo na sua intervenção inicial -aquilo que era o seu estado de alma perene,  ao se referir a todas coisas pátrias:

 << … não sou afiliado ao partido e presido esta reunião como cidadão socialista que sempre fui…>>. Ou seja: entende-se que não é o hábito que faz o monge, e sim as acções dos homens que os perenizam para a eternidade. — - Ainda viveu mais 21 anos para ver o sol nascer com cores do arco íris, saindo por detrás das serranias,  em vez do vermelho escarlatino de um pôr de sol,  exageradamente voltado aos interesses do poder e da glória não unipessoal jamais merecidas pelos “xuxialistas “ que aí estão.

Mais adiante podemos ler o que escreveram os seus biógrafos e historiadores, de uma forma parcialmente premonitória,  haja visto a grande aversão que Miguel Torga tinha das luzes da ribalta. 

A genialidade é inimiga directa da publicidade,  e prima carnal da vaidade esvoaçante do ser humano que não pensa,…aquele  que apenas vive exdruxulamente  ao sabor da corrente que o leva em direcção ao nada!… que é a campa rasa do leito onde todos se irão amortalhar…um dia… mais tarde ou mais cedo todos lá iremos partir em direção a novas dimensões, novas atitudes e modos de estar no mundo vivente “in memorium”!

Eu penso que quando a estrela brilha do mais profundo do seu epicentro, nada impede que essa luz ofusque as demais, que giram à sua volta… tal qual as bestiais mariposas,  em volta de uma flor de giesta, ou de estêvas com os seus bilros pendurados,… ou até de um qualquer vistoso purpurante liláz nascido à beira de uma campa do descanso eterno no seu reino encantado nas terras altas que se avistam do Alto da Serra de Bornes, onde um dia eu gostaria de também repousar… porque lá foi também a minha raiz.

 - A minha seiva criadora de palavras velhas, extenuantemente decompostas em pedaços de origem remota, telúricas relíquias recordações da Anta de Caravelas!…  mas que me servem todos os dias para escrever frases novas. 

Só quem palmilhou, descalço, cabelo ao  vento suão, escachouçou por cima de ouriços de castanheiros em manhãs de prima vera!…e à espreita do primo verão!… voismecês,…  ou verão os vindouros, os  pedregulhos soltos no caminho de cabras e na imaginação de politicos que, tal qual feitos uns “jagunços” de atalaia ao alheio liberal pensamento popular e colectivo,… eles  lá se vão maravilhar a olhar a natureza – por fora já pobre e quase morta, na crosta das montanhas – e por dentro,  rica em ebulição de sentimentos quentes, pessoais voluptuosos inventivos dos filhos que ali vingaram as suas raízes herdadas dos seus ancestrais.

Nada mais independentista e sonhador do que um olhar do alto da serra!, seja a de Bornes, a de Montesinho, a do Marão ou de Paradela… ou ainda o olhar por cima da serra da Nogueira em direção à serra raiana da Coroa de Castela!…

 —além, lá longe são terras de Espanha!,… imaginava eu quando ali subia ainda menino… de tão longe e tão distante nunca serão iguais à minha terra, que é sempre mais bela… mais bonita e mais singela!… não há outra como ela!   

Da mesma forma que interpretei e li o “Mestre” a acusar Jean-Paul Sartre de ser o grande mal dos pensadores  percussores do enviroticado sistema laptospirosiano da filosofia niilista da grande parte do século vinte,… onde se sabe hoje toda a verdade e nada mais que a verdade à luz do meio informatizado, e o recordo e eu concordo que :

Ele acusou Sartre de ter posto o preconceito acima do conceito com o fim de promover a sua imagem, sem se importar de ter eventualmente corrompido gerações inteiras. Eu acrescento que os nossos dirige ntes, TODOS, independente de cor e credo após a Abrilada, eles se regalaram a deixar para os vindouros discussões inócuas, heranças efêmeras, histórias mal contadas, feitos insignificantes sem comparativos, destituídos de conceitos logo sem qualquer tipo de pré-conceito!…

 Assim, eu diria que também nós temos o “Ti Bush echas” como figura emblemática do que é o assalto ao poder intelectual da cabeça do vizinho do lado!…ou seja: todos nós actuais figurantes do palco e da platéia expectorante… muito próxima de “espectorar”  na sarjeta ensinamentos de um passado já distante.   -  Não é importante levantar a voz do meio da multidão, e gritar: eu sou bãon, carago!… estou aqui!!!!…

 - Importa sim,  saber que algum dia a mesma voz é levada ao alto do “poleiro”, sejam as  minhas lembranças e observações da paisagem retinadas do alto da serra de Bornes, para dizer estou vivo, este é o meu lugar. Pois sei que,  depois de mim outros virão para o conquistar pelos seus méritos próprios porque se os não tiverem, não é depois de mortos que os hão-de arranjar! 

Finalizo este pequeno trecho de “conversa-fiada”.. porque não foi vendida, e sim de graça dada,… com uma constatação mais que perfeita para homenagear este meu conterrâneo na data do seu aniversário de nascimento, 12 de Agosto de 1907.       

<<… Que cada frase feita,  em vez de um habilidoso disfarce, seja uma eterna sedução à sabedoria individual de cada um (…) e um acto sem subterfúgios, sem imaginativas ou inventivas condições de prazer e deleite. –  Para tanto, a minha frase… eu  limpo-a escrupulosamente de todas as impurezas e ambiguidades…>>

Isto porque…  como ele diria: Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós…

 Silvino Potêncio – o HOME de Caravelas – Mirandela

 Agosto/2007  -  Autor de: O Código Dá VintchCinco de Abriu-looooooo!!!!!… 

http://zebico.blog.com



Um comentário:

  1. Ola Ceicinha Camara

    Obrigado pela publicação deste pequeno registro sobre um grande Escritor, Poeta Transmontano lá das Minhas/Nossas Terras Altas.
    Quando por lá passar vai sentir toda essa saudade emigrante.
    Abraço e até breve
    Silvino Potêncio - Natal/Brasil

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