João Alves das Neves (*)
Com cerca de 170 agremiações espalhadas por todo o vastíssimo território brasileiro, o papel que têm cumprido na divulgação da Cultura Portuguesa ainda não foi devidamente avaliado pelos especialistas nem tão pouco pelos governantes dos dois paises que costumam atravessar o Atlântico mais pela devoção turística do que ao serviço dos reais interesses de Portugal e Brasil.
As associações lusobrasileiras, cujo pioneirismo foi inaugurado pelo Real Gabinete Português de Leitura, em 1837, no Rio de Janeiro, têm feito mais pela Cultura Portuguesa do que todos os políticos seja ele qual ele for. Num passado já remoto, lembramos dois estadistas portugueses que tentaram estimular a aproximação de Portugal e Brasil – o Rei D.Carlos, que preparava a sua visita quando foi barbaramente assassinado, juntamente com o filho mais velho, e o Presidente da República, António José de Almeida, que em 1922 veio participar das comemorações do centenário da independência. E os outros reis e presidentes que fizeram – e neste capítulo incluímos os dirigentes dos dois lados, perguntamos o que é que eles fizeram para que portugueses e brasileiros possam unir-se na construção de um futuro comum. Que responda quem souber!
Às associações de espírito lusíada no Brasil já devemos bastante assim como ressaltamos alguns intelectuais e artistas lusos, entre os quais apontamos as obras de Hipólito José da Costa, João Lúcio de Azevedo, Raphael Bordallo Pinheiro e dos contemporâneos Gilberto Freyre, Jaime Cortesão, Pedro Calmon, Ferreira de Castro, Miguel Torga, Serafim Leite e de tantos outros!
Do ponto de vista associativo, o Clube Português passou a ter, desde 1920, uma posição de relevo, no plano cultural, mas, nos últimos decênios anos, foi dos que mais se ressentiu, em São Paulo, da queda do surto emigratório e apenas na presidência de Rui Mota e Costa a crise econômico-financeira foi debelada. Uma nova fase cultural começou em 2010 com a mesa – redonda, coordenada pela escritora Teresa Rita Lopes (da Universidade Nova de Lisboa) e a participação de professores e escritores brasileiros e portugueses, em torno de “As idéias políticas de Fernando Pessoa”, desmentindo que o poeta da Mensagem fosse um mero seguidor do regime fascista. E não o foi, conforme revelaram os documentos do livro Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo, assim como as conclusões do debate (em 14-7-2010), no Clube Português, nas comemorações, no Brasil, do 75º aniversário da morte de criador dos heterônimos.
Um livro foi lançado – 90 anos do Clube Português, sob a coordenação do Centro de Estudos Luís de Camões (órgão cultural da entidade), e nesse volume de 160 páginas reunimos os principais episódios da história da agremiação luso-paulistana, desde 1920 até hoje. Foram recolhidos depoimentos daqueles que têm acompanhado a vida associativa e vão continuar a fortalecê-la enquanto puderem. O volume reúne dezenas de manuscritos e fotografias dos fundadores e colaboradores dos principais acontecimentos, testemunhando o muito que fizeram pela dignificação cultural da Nação Portuguesa no Brasil e da receptividade da acção que tiveram e que ainda cumprem no país irmão. Por fim, vale a pena ressaltar que o espírito lusíada do Clube Português de São Paulo tem como símbolos os dois maiores poetas de Portugal de ontem e de sempre – Luís de Camões e Fernando Pessoa!
FONTE: Revista Lusofonia
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