ISTO MERECE SER DIVULGADO!
O JORNALZINHO DA CULTURA DE CEARÁ-MIRIM
Edição experimental. Junho de 2010.
Editado pela comissão organizadora da ACLA
A ACADEMIA CEARAMIRINENSE DE LETRAS E ARTES
- ACLA -
VAI ESTIMULAR A CULTURA DO MUNICÍPIO
Uma comissão organizadora cuida da fundação da Academia Cearamirinense de Letras e Artes – ACLA, entidade que já nasce com o compromisso de estimular e preservar a riquíssima cultura da terra dos canaviais.
Composta por Gibson Machado, Lúcia Helena Pereira, Bartolomeu Correia de Melo e Pedro Simões, cearamirinenses nascidos ou adotados pela cidade, comprometidos com a cultura em suas mais variadas formas, a comissão já concluiu a as iniciativas necessárias à constituição da ACLA.
“Já contamos com Estatuto, relação de patronos, candidatos a acadêmicos e até mesmo um brasão” – relata Simões. “Temos o apoio da Academia Norte-rio-grandense de Letras e de alguns dos mais importantes intelectuais do nosso estado” conclui Pedro Simões.
De fato, a relação de patronos faz inveja a qualquer instituição cultural, dado a expressão literária dos relacionados e a sua importância no contexto regional e até nacional.
Rodolfo Garcia, por exemplo, foi membro da Academia Brasileira de Letras e a biblioteca dessa entidade tem o seu nome. Escritores como Jayme Adour da Câmara, e Júlio Gomes de Sena, de projeção nacional. Gente tombada pelo patrimônio cultural nordestino, como Nilo Pereira, Edgar Barbosa e Maria Madalena Antunes Pereira.
Poetas que fazem parte de qualquer antologia do nosso estado, tais como Juvenal Antunes, Adele de Oliveira e Anete Varela. Figuras de expressão até mesmo da política e da dramaturgia, do porte de Augusto Meira e Inácio Meira Pires.
Educador do nível do Padre Jorge O´Grady, festejado como notável em outros estados da federação.
Para que se tenha idéia de como anda a memória cultural do município, a maioria dos leitores com certeza ignorava o berço da maior parte dos patronos, não sabe nada, ou pouquíssima coisa sobre suas obras.
Pois a ACLA vai exigir dos seus acadêmicos uma monografia sobre cada um dos patronos para editá-las e distribuí-las nas escolas públicas e bibliotecas, com vistas à formação de uma consciência cultural regional.
Muita gente também desconhece os valores culturais contemporâneos. Gente que honra o patrimônio intelectual do município, tais como Sanderson Negreiros, um dos mais importantes escritores do Rio Grande do Norte, Bartolomeu Correia de Melo, reputado como um dos maiores contistas do país, Franklin Jorge, crítico literário, escritor, cronista do Ceará-Mirim, Inácio Magalhães de Sena, dos mais eruditos intelectuais do estado, autor de dois livros de memórias sobre o município.
Maria Lúcia Pereira, a poeta que tem no verde vale a sua fonte de inspiração, Anchieta Cavalcanti, jornalista, escritor e com um passado dedicado às artes cênicas da nossa terra e Pedro Simões, memorialista, cronista e contista que apropriou em seus livros o modo cearamirinense de ser.
E, finalmente, o escritor e arquivista da memória do Ceará-Mirim, Gibson Machado, grande animador da cultura popular e cioso guardião da história municipal.
A comissão organizadora da ACLA aguarda o fim do período eleitoral para implantarem a entidade, receosos de que a política partidária possa conduzir os nobres propósitos da instituição a rumos diversos dos pretendidos.
Até o momento em que editamos esse veículo, inúmeras tentativas foram feitas no sentido de obter apoio dos poderes constituídos do município – a Prefeitura e a Câmara Municipal – através dos seus titulares e nenhuma resposta foi dada, nem mesmo para que os membros da comissão fossem recebidos em audiência.
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VERDE, SEMPRE TE QUERO VERDE.
(AO MEU VALE – CEARÁ-MIRIM)
Lúcia Helena Pereira
Verde, sempre te quero verde!
Vestido de esperança e dourado de sol.
Verde, sempre te quero verde
Brilhando na chuva e espreguiçando-se ao vento.
Verde, sempre te quero verde,
Iluminado e festivo
Comemorando história e preservando lembranças.
Verde, sempre te quero verde
Exibindo casarões, praças e ruas,
Patrimônios de antigas nobrezas.
Verde, sempre te quero verde,
Impetuoso, destemido e alvissareiro,
Na travessia dos séculos.
Verde, sempre te quero verde,
Na memória dos teus filhos ilustres,
Uns distantes, outros próximos do coração.
Verde, sempre te quero verde,
Coberto pelo aroma fresco das matas
E banhado pelos rios serenos,
Onde sussurram as sinfonias do tempo.
Verde, sempre te quero verde,
Embelezando-se no Oiteiro, Guaporé,
Santa Águeda, Verde - Nasce,
Mucuripe, Solar Antunes!
Verde, sempre te quero verde,
Na Usina São Francisco, Ilha Bela,
No Cumbe e Diamante.
Verde, sempre te quero verde,
Nas águas misteriosas e perfumadas dos olheiros,
Do rio Água Azul e rio Ceará-mirim sempre te quero verde
Na casa - grande onde corri meus passos de criança,
E bebi água de poço refletindo a minha vida!
Verde, sempre te quero verde
Anunciando alegrias e acordando saudades.
Nas águas límpidas dos seus rios poéticos.
Verde de memoráveis figuras
Do meu bisavô - José Antunes de Oliveira,
Da minha avó paterna - Madalena Antunes,
Do meu tio-avô Juvenal Antunes de Oliveira,
Do primo amado - Nilo de Oliveira Pereira.
Ceará - Mirim de Edgar Varela e Edgar Barbosa,
Da ex-prefeita Terezinha Jesus da Câmara Melo,
De Roberto Pereira Varela e Rui Pereira Júnior,
De Adele de Oliveira e José Augusto Meira.
Verde de tantos nomes queridos:
Gracilde Correia de Melo, Idalina Correira Pacheco
Raimundo Pereira Pacheco e Olympia (meu avós maternos),
Ceará-Mirim dos meus pais:
Abel Antunes Pereira e Áurea Pacheco Pereira.
Dos meus tios: Ruy Antunes Pereira, Vicente Ignácio Pereira,
Maria Antonieta Pereira Varela e Luiz Lopes Varela,
Joana D´Arc Pereira do Couto !
Verde de Zizi -Augusto Vaz Neto- (primo tão querido),
De Herbert Washington Dantas,
Do meu trisavô - Manoel Varela do Nascimento e Bernarda.
Verde dos tios: Etelvina Antunes Lemos e Ezequiel Antunes.
Das minhas contadoras de estórias: Piô e Maroca.
Ceará-Mirim de Quincas e Lebre
Do compadre Joaquim Gomes (tocador de Rabeca),
De dona Biluca - rendeira de almofadas de bilro!
Verde, resplendente verde,
De minha Duda (Iara Maria Pereira Pinto),
De Uruca - Denise Pereira Gaspar,
De minha primeira professora: Valdecy Villar de Queiroz Soares!
Verde dos meus conterrâneos: Naide, Neire e Nadeje,
De Abner de Brito, Onofre Soares, Gibson Machado,
Waldeck Moura, Edvaldo Morais, Dr. Percílio e dona Esmeralda
A cidade verde, de canavial ondulante,
De oiticicas cheirosas, manacás, umburanas...
Ceará-Mirim – criança de 151 anos
Engalanando – se para festejar
Seu verde resplendente, luminoso e iluminado,
Brilhando nas asas dos araraús
Passeando pelo infinito
E ecoando nas sinfonias siderais,
Repercutindo - se no dobre dos sinos
Da Matriz de N.Sra. da Conceição
Ecoando pelo vale!
Ceará - Mirim! Sempre VERDE!
É assim que eu te quero!
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Da série: “O Céu de Ceará-Mirim”Franklin Jorge, uma das maiores expressões do contemporâneo momento cultural de Ceará-Mirim.
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O DISCÍPULO DE GUTENBERG
30 de Setembro de 2008
Por Franklin Jorge
Aluísio Macedônio Lemos emociona-se ao reler as anotações que servem de matéria-prima ao livro de memórias que está escrevendo. Uma parte já foi composta em tipografia pela mulher, Dona Laurice, que se multiplica em atenções e cuidados.
Papai chegou ao Ceará-Mirim por volta de 1900, onde se casou em 1901 e lhe nasceu Adalgisa, professora durante anos no Ceará-Mirim onde era querida por todos. Casou-se com Justo, pai de José Lemos, que em 1952 repintou o teto da igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Embora nascido em Natal, Macedônio não esquece o Ceará-Mirim, onde viveu depois que retornou de Fortaleza.
Há muita coisa sobre o povo e a cidade que ocultei no meu livro. Eu me lembro que quando viemos do Ceará para o Rio Grande do Norte, em 1910, estavam construindo a ponte de Igapó. Até então a travessia era feita por meio de barcos e canoas.
O avô de Macedônio, general do Exército Brasileiro, integrou o corpo de Voluntários da Pátria e lutou na guerra do Brasil contra o Paraguai.
Era muito amigo do general João Varela, cujo nome batiza uma das principais avenidas do Ceará-Mirim. Todos os domingos, o meu avô promovia jogos de baralho na sua casa e convidava o general João Varela.
Meu avô criava um macaco que certa vez subiu na mesa em que eles jogavam e embaralhou as cartas... O episódio ficou na crônica da família. Meu avô era calmo e tinha, como o general João Varela, uma barba longa à D. Pedro 11...
O general puxava de uma perna, em conseqüência de uma refrega no Paraguai. Era um homem muito bom e querido no Ceará-Mirim.
Macedônio lembra que o avô morava num velho casarão, nos oitões da Intendência e possuía, além da patente militar, vários imóveis de aluguel.
Sustentava quinze netos. Quando estava preocupado com alguma coisa, cofiava em silêncio a barba espessa... Morreu em 1921.
Uma das coisas que Macedônio não conta em suas memórias diz respeito à discriminação social que vigorava no Ceará-Mirim como uma lei não escrita.
As crianças pertencentes a classes sociais diferentes, não brincavam juntas e, de uma maneira geral, as pessoas eram discriminadas pelos senhores de engenho. Apurava-se muita nobreza e até gente que não tinha qualidade, porque não possuía dinheiro nem tradição, discriminava aqueles que estavam socialmente um degrau abaixo.
No Ceará-Mirim, os pobres era discriminados e não entravam em casa de rico. O delicioso avoador era comido às escondidas nas casas de família, por ser considerado peixe de pobre. Era comido fora de hora, para que ninguém lhe sentisse o cheiro.
Eu me lembro de um episódio que presenciei na feira, uma manhã. Eu estava perto de um garajau de avoador quando Sérgio Fonseca, que morava no quadro do Mercado, veio na nossa direção.
O vendedor lhe ofereceu o peixe e Sérgio, ao perceber a presença de um estranho, sentiu-se ultrajado. Reagiu grosseiramente, exigindo respeito, pois peixe daquela qualidade não lhe entrava em casa. O vendedor desculpou-se como pôde, explicando que lhe havia oferecido o garajau de avoador para ele vender aos trabalhadores de suas terras...
Ainda me lembro que as visitas eram anunciadas com antecedência e observavam todo um ritual. O Ceará- Mirim, acredite, era assim.
Até 1920 havia muito impaludismo no município. A terra, muito encharcada e cheia de olheiros, era das mais insalubres. Os invernos, rigorosíssimos, causavam grandes estragos à saúde da população.
O Ceará-Mirim tinha alguma coisa do Pará, onde vivi e trabalhei na Tipografia Guajarina. Lá, a base alimentar também era o peixe, a farinha d’água e o açaí... No Ceará Mirim comia-se muita verdura, porque era especial e barata. O feijão verde era indispensável, assim como o maxixe e
É com indisfarçável prazer com que Macedônio reconstitui os costumes alimentares antigos.
Na mesa do meu avô sentavam-se ele à cabeceira e os netos ao redor. Ficava diante dele um prato cheio de ovos cozidos, dos quais ele comia somente a clara de seis ou mais e dava as gemas para os meninos que ficavam mais perto dele...
O passadio era farto e saudável. Não faltava na sua mesa o canjicão, o jerimum, o cuscuz, a batata doce, a macaxeira, o munguzá e, às vezes, o pão e a manteiga.
Tomava-se o café puro ou com leite. Essa primeira refeição, da qual constava tudo isso, era tomada entre as seis e as seis e meia da manhã, antes dos meninos saírem para a escola.
O almoço era de peixe ou galinha, quando não feijão com carne verde, farofa ou pirão, dependendo do gosto de cada família. Comia-se nessa segunda refeição muita verdura. A mangaba acompanhava o peixe cozido e espremia-se o cajú sobre o pirão de peixe...
À noite o meu avô gostava de comer banana-sapo ou banana-de-velho assadas com a casca e tudo e em seguida eram fritas em azeite doce. Também constava do jantar jerimum, arroz doce, pão, queijo - quando havia -, coalhada, leite e café. A batata não era comida à noite, porque provocava gases; meu avô as chamava de “pílulas bufantes”, só recomendáveis para consumo durante o dia...
Autodidata, Macedônio foi a vida inteira jornalista e tipógrafo. Ainda hoje mantém uma revista literária, A Juriti, que já tirou para mais de 150 números, sem a ajuda de nenhuma instituição.
Em Ceará-Mirim fundei a revista “Canaviais” e o jornal “Folha do Vale”. A coleção da “Folha...” está nas mãos do historiador Manoel Rodrigues de Melo, que a pediu emprestada e nunca mais a devolveu... Havia muitos jornaiszinhos manuscritos no Ceará-Mirim e eu acho que escrevi alguma coisa a respeito numa dessas publicações... “A Juriti” já não circula há quatro anos, mas temos um número parcialmente composto.
O jornalismo abriu para Macedônio as portas da política. Integralista histórico, fundou o partido no Ceará-Mirim, onde recebeu uma comitiva liderada pelo escritor Luís da Câmara Cascudo.
Cascudinho chegou em trem especial fretado. Fizemos uma grande festa na minha casa... Naquele tempo, havia no Brasil, veja só, 152 partidos políticos, nos quais se disseminavam todo tipo de comunista.
No Brasil a propaganda anticomunista era organizada e mostrava os horrores da Espanha, com freiras espetadas nas portas de conventos e hospitais... O Integralismo reagia a tudo isso sob o comando de Plínio Salgado, grande escritor, muito caluniado por se opor ao comunismo e ao fascismo no Brasil. Foi pioneiro nessa luta, mas revelou-se um fraco, pois deixou os brasileiros na mão, ao curvar-se diante da vontade do ditador Getúlio Vargas. Nosso lema era Deus, Pátria e Família.
Macedônio informa que Cascudo era um dos chefes do partido integralista no Rio Grande do Norte.
Homem de muita cultura, Cascudinho se prejudicou por ser popular. A sociedade burguesa não suporta os homens de cultura que conquistam grande popularidade, como Cascudinho. Eu ouvia muita crítica contra ele, de pessoas que diziam que ele não sabia tanto quanto se propalava...Que o seu talento era emprestado... Foi muito satirizado pelos adversários que temiam o seu gênio e a sua cultura.
Esmeraldo Siqueira dizia sempre muito mal dele. Chegava a ser injusto e impiedoso. Insistia que Cascudinho era ignorante, não sabia nada e escrevia muita besteira.
Havia até quem dissesse em Natal que seus livros eram escritos pelo professor José lvo Cavalcante... Depois José Ivo morreu e Cascudinho continuou escrevendo e publicando um livro atrás do outro, indiferente à inveja dos conterrâneos. Seus detratores, ao contrário, não deixaram nenhuma obra. Nada, nada, nada.
Em 1935, dinamitaram a casa de Macedônio no Ceará-Mirim, na antiga rua das Trincheiras, em frente ao Teatro Operário, que desapareceu com o tempo.
Tínhamos poucos militantes, apesar de o Ceará-Mirim ser potencialmente comunista. A cidade era conhecida em toda a parte com a Moscou Pequena, de tantos comunistas que havia lá...
O povo de Ceará-Mirim gostava muito de cultura, mas era ideologicamente fraco. Não tinha capacidade de ação e todos eram muito apegados a interesses pessoais.
Agora, você sabe, sempre há dissidentes. Porém, quando se insurgiam por algum motivo, não tinham força, não tinham expressão. Foi lá que eu aprendi que o oportunismo caracteriza as massas.
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