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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PEROLINA DA SILVA XAVIER, NETA DE ESCRAVOS, REVERENCIADA NA SUA MISSA DE 7º DIA, POR LÚCIA HELENA PEREIRA

GENTE, LEIA ESTA MATÉRIA INTERESSANTE QUE EU TROUXE DO BLOG "PALAVRAS E IMAGENS", DA CONTERRÂNEA-ESCRITORA LÚCIA HELENA PEREIRA, NETA DA SINHÁ-MOÇA CEARAMIRINENSE "MADALENA ANTUNES PEREIRA". UMA BELA MATÉRIA, ONDE ELA DESCREVE A NEGRINHA PEROLA - PEROLINA DA SILVA XAVIER - NETA DE ESCRAVOS, QUE FOI A BABÁ (AQUI EM PORTUGAL CHAMA-SE "AMA") DOS FILHOS DO CASAL CEARAMIRINENSE: ARY ALECRIM PACHECO E YOLANDA PEREIRA PACHECO (TIA DA POETISA DAS FLORES - LÚCIA HELENA PEREIRA). UMA BELA HISTÓRIA QUE TRANSPORTOU-ME A UM PASSADO DE BARÕES E BARONESAS, ONDE O CENÁRIO POLÍTICO DA ÉPOCA ERA OS MONARQUISTAS DE UM LADO E REPUBLICANOS DO OUTRO E QUE TERMINOU COM A PROMULGAÇÃO DA "LEI ÁUREA" E OS ESCRAVOS SENDO LIBERTADOS... LEIA, POR FAVOR! E SE QUISER E PUDER, DEIXE SEU COMENTÁRIO, QUE SERÁ MUITO BEM VINDO! (CEICINHA CÂMARA).

MONTAGEM: Ceicinha Câmara

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PEROLINA DA SILVA XAVIER - UM PATRIMÔNIO HUMANO QUE SE FOI, EM 26-09-2010 - COM SUA ETERNA CARTA DE ALFORRIA E O SORRISO DE "LUVE"!


FOTO ILUSTRASTRATIVA (GOOGLE)

"O MININIO TINHA UM SURRISO 
QUE PARICIA INTÉ UMA LUVE " (*) 
(O menino tinha um sorriso 
que parecia até uma nuvem).




Morávamos na Rua Grande, em Ceará-Mirim, pertinho da Estação Ferroviária. Meus tios, Yolanda Pereira Pacheco (irmã de minha mãe) e seu esposo - Ari Alecrim Pacheco, também moravam na mesma rua. 



Eu deveria ter entre três a quatro anos quando passei a observar o jeito de falar e conversar, de Babá e Perolina (que vivia na casa desses tios), sempre com uma ressonância saudosista.



Perola - como era chamada na casa dos meus tios, era neta de escravos.



Uma negrinha de grande respeito, "cria" da casa que por lá apareceu e fixou-se com essa família que honrou e enalteceu a sua raça - a condição humana de descendente de escravos.



Ontem, às 17:30, fui à missa de sétimo dia de Perolina da Silva Xavier (10-01-1907 + 26-09-2010), na Capelinha de São Francisco, em Areia Preta. A Perola de todos da nossa família - sobretudo de tia Yolanda e Ari que lhe tinham na conta de uma pessoa da família.



Uma missa belíssima - e eu me dizia intimamente: ela teve direito a tudo isso - com participação dos moradores da Praia Areia Preta, presença de Maria Guilhermina, filha caçula dos meus tios (já referidos), seu filho Bruno, Marilene minha irmã, Sônia Pedrosa - amiga da família, e outros.



Guilhermina estava no banco da frente. Lágrimas faziam a dança no palco dos seus olhos luminosos. Um jovenzinho na entrada distribuía a lembrancinha de Perolina, com o Salmo 23. Mas, apurei meus olhos e meu espírito na legenda preciosa que Guilhermina inseriu nesse "santinho': "Eternas saudades de familiares, parentes e amigos". Nela, o sentimento de todos: dos seus pais, dos avós, dos irmãos, da família Pacheco e Pereira, enfim, daqueles que souberam reverenciar a querida negrinha de Ceará-Mirim, cuja fidelidade "aos maiores"



era estóica e comovente.



Perola criou os filhos dos meus tios. Amou cada um e teve seu apego maior, ao 





lindo menino Joaquim (que se foi ainda pequenino, com cerca de dois aninhos) e ela chovava e dizia: "Hum, sei não, cumo é que os anjo levam um minino inucente?". Perola que amava as crianças de Yolanda e Ari Alecrim Pacheco: Maria Luíza, Ari Pacheco Filho (falecido há quatro anos) e Guilhermina - que após a morte dos pais, levou-a para sua casa, onde viveu durante 25 anos. 



Relembro uma equipe de televisão que descobriu essa neta de escravos, quando ela completou cem anos. E essa equipe foi à casa de Guilhermina e fez uma brilhante matéria com a Negrinha amada, a protegida de Guilhermina, que só saiu de sua casa para o jazigo de sua família.



Uma lição de respeito nos dá essa prima querida, com aquela que seus pais tanto amaram e a Princesa Isabel concedeu o direito da liberdade, embora seus ancestrais já tivessem morrido, sem o direito ao vôo 





de pássaro - a liberdade de um escravo.



Lamentei estar quase sem voz e não poder gritar naquela missa lindissima, com a exposição do Sacrário passando entre nós e os cantos harmoniosos ecoando pelo ar: 





Perolina teve direito a tudo isso!



Fechei os olhos e chorei recordações de Perolina, com aquele turbante a cobrir-lhe os cabelos pechains, com seus resmundos, bolos de fubá, tapioca molhadas com leite de coco, ou com aquela frase que gravei, dos idos da infância no vale verde, quando do encantamento do meu priminho Joaquim:
"O MININIO TINHA UM SURRISO 
QUE PARICIA INTÉ UM LUVE ".
E foi pelas nuvens que Perola se encantou, após 103 anos de existência, guiada pela luz afetiva de Maria Guilhermina e dos seus filhos e netos.
Esse amor - de Guilhermina por Perola - é o amor dos seus pais, continuado por ela. UM GESTO ETERNO!

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PS.: Texto escrito por Lúcia Helena, no domingo, 03 de Outubro de 2010.

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