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terça-feira, 3 de maio de 2011

A DOR DE UM "RETORNADO". POR: SILVINO POTÊNCIO.

SILVINO POTÊNCIO

A DOR DE UM RETORNADO!...

Manuel Maria do Divino Coração Ferreira Monteiro,... era o nome dele!... nascido 86 anos atrás em Paços de Ferreira, faleceu em Natal (Brasil) no mês passado.
Com o nosso coração ainda acabrunhado pela noticia recebida sómente semanas depois da partida deste nosso Querido Amigo!,... quase um Avô dos meus filhos, que não tiveram a felicidade de conhecer o Ti Zé Artur lá de Caravelas, falecido em 1 de Abril de 1969 - quando nós estávamos com 3 meses de Escola de Aplicação Militar em Nova Lisboa - o velho Monteiro se foi!... e não lhe pude falar as minhas mágoas na despedida.
- Coisa que faço agora e espero que ele me escute lá aonde ele estivér.
- Uma das primeiras conversas que tive com este Retornado (na minha estreia como funcionário de Plataforma de Petroleo ao largo da costa do Ceára...) foi sobre a solidão!...
- Dizia-me ele então que, qualquer que fosse a condição de vida ou posses que o ser humano tivésse, a pior desgraça que nos pode acontecer é sermos invadidos pela solidão!...
- Não aquela solidão de não termos ninguém por perto, e sim aquela solidão de sentir a alma oca de pensamentos, vazia de sonhos... e seca, estéril de afetos!!! e de carinhos!!!...
- Conversas dos amigos, dos parentes, mesmo dos mais chegados... ou simples afinidade como era a nossa Amizade, são o combustível que nos mantém viva a chama da vida e do não esquecimento, mesmo além da morte.

O Velho Monteiro levou a vida de um lado para o outro, e ele sempre me dizia que <<pedra que muito rola não ganha musgo>>... até que um dia ela se vai rio abaixo, e desaparece feito um grão de areia na beira do oceano da eternidade de cada um de nós.
Milhões de sentimentos me ocorrem neste momento de saudade... muita e muita saudade!... e uma tristeza sem fim... e por isso resumo tudo neste poema de homenagem póstuma.

- Um dia destes, se Deus quisér, voltarei a este tema (neste momento não posso!):

A Dor de Um Retornado...

...Uma lágrima de dor,
Um suspiro de pouco amor,
- Uma nuvem ao sol-pôr,
- num oceano vermelho-rubro, de estertor!...

Um sentimento de puro abandono,
Qual andorinha no sono,
Desta primavera já sem dono,
- Sem inverno, sem verão e sem outono.
...Uma lágrima de dor e de saudade,
Um soluço não contido por maldade,
- Desta vã caminhada em tenra idade,
- Na esperança de um última vontade...
Se me escapa já por muito desalinho,
Da postura inconformada sem carinho,
- Da minha alma que se vai devagarinho.
- Contra o vento da quebrada do caminho!
Uma lágrima no rosto que padece,
Qual folha solta desta cepa que envelhece...
- Feito tronco de castanho que anoitece,
- Na ramada tão sem flor, que o frio nela desce.
...Um lágrima de dor!...
Desta primavera já sem cor,
Um soluço não contido ao sol-pôr,
- Uma lembrança tão distante desse amor!...
- Da minha alma, ela se afasta num vapor.
Essa dor...essa lágrima, essa flor...

Por lá ficou adormecida,
Não desceu pelo meu rosto já nublado,
Desta dor de ter saudade à despedida...
Que já pressinto estar aqui, ... bem a meu lado.
Uma dor...
Uma nuvem...
Uma lágrima,
- no oceano deste amor tão mal-tratado!
Mais um sonho que se apaga amortalhado.
Autor: Silvino Potencio (in Poesias Soltas)
Lisboa: Out/1979
Nota do Autor:  Os Amigos e Leitores que porventura viveram em Luanda nos anos 50, 60, 70... do Século passado, certamente ouviram falar de nomes como PêQêPê, Mabeco, Marito, Vanzelino, e tantos outros...
O Velho Monteiro era Pai do Nosso Querido Amigo Mário (Marito do Moto Cross)... a minha saudade!!!
Silvino Potêncio - Emigrante Transmontano em Natal/Brasil
Ex Retornado - Ex Residente em Angola

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