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sábado, 19 de junho de 2010

Imprensa internacional reage à morte de José Saramago

A notícia da morte do escritor José Saramago, esta sexta-feira aos 87 anos, espalhou-se rápido e teve eco nos jornais de todo o Mundo, de forma mais imediata através dos seus portais, na Internet. Todos destacam o talento do português, a sua importância no contexto da literatura contemporânea, bem como as suas convicções políticas e morais. Por:Rui Pedro Vieira (Jornal Correio da Manhã)



O espanhol ‘El País’ dá destaque de abertura à morte do escritor recordando Saramago enquanto escritor, poeta e, antes disso, “pessoa pobre”. “Unindo o jornalismo a esses três factores (pobreza, poesia e novela) se entenderá a fusão entre a preocupação social e a exigência estética que marcaram a obra do único Prémio Nobel da língua portuguesa até hoje”, escreve o diário. O jornal espanhol recorda ainda a última entrevista realizada a Saramago, que data de 4 de Dezembro do ano passado, a propósito do apoio a Aminatou Haidar, activista a favor do Saara Ocidental, que fez greve de fome no Aeroporto de Lanzarote. “Todos seremos moralmente mais pobres se Haidar morrer”, disse o escritor português.

O ‘El Mundo’ recorda igualmente com grande destaque a figura de Saramago, resumindo a sua existência da seguinte forma: “Sem pausa mas sem pressa, assim viveu a sua vida José Saramago.”

Além de explorar a noção de que o autor de ‘Jangada de Pedra’ se tornou escritor tarde, o jornal escolhe a palavra “saudade” para lembrar o Nobel e sintetiza a sua obra: “Não procurava uma meta, mas sem o querer, alcançou-a. Contribuiu para difundir a literatura portuguesa e as suas obras já formam uma parte inseparável dela e um lugar a que se tem de ir para não se esquecer do seu nome, para o recordar, sempre com ‘saudade’.”

O ‘Le Monde’ aproveita para recordar os títulos mais sonantes do seu percurso e lembra que Saramago era um homem de Esquerda, “que nunca escondeu a sua desconfiança face à construção europeia”.

O ‘The New York Times’ dá nota da morte do escritor, através da confirmação pelo seu editor, Zeferino Coelho, recordando ainda uma entrevista dada à ‘AP’ em 1998: “As pessoas costumavam dizer sobre mim que ‘eu era bom mas comunista’. Agora passam a dizer ‘É comunista mas é bom’.”

A ‘BBC’ destaca ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ da sua obra e define Saramago “como um escritor e um ateu, que só começou a tornar-se conhecido pelo seu trabalho aos 50”.

A PAIXÃO PELOS LIVROS E A ESCRITA POLÉMICA

No Brasil, a notícia também teve grande impacto esta sexta-feira: “Saramago mostrou ao longo da sua vida uma paixão duradoura pela literatura”, refere ‘O Estado de São Paulo’.

“Seus livros são marcados pelos períodos longos e pela pontuação em muitos momentos quase inexistente. Os artifícios formais são vistos como verdadeira barreira para vários leitores, mas outros se encantam com a fluidez de seus textos, sempre entremeados por reflexões fortemente humanistas”, destaca o mesmo jornal sobre o estilo do autor, recordando que “os grandes problemas metafísicos, a realidade e a aparência, a natureza e a esperança”, eram as suas preocupações. “Um delicado tecedor de palavras”, como lhe chamou Umberto Eco.

Já o jornal ‘O Globo’ sublinha a morte de “um dos mais importantes escritores contemporâneos que, em 1998, viu a “sua prosa inventiva, a estética rigorosa e a constante preocupação social” serem distinguidas com o Nobel da Literatura.

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