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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dona Militana, a maior Romanceira do Brasil. (POR: Deth Haak)

" Calou-se a Cotovia Potiguar"

Ainda em estado de choque! Após ler no TWITTER sobre o encantamento de Dona Militana quando a noite de sábado do dia 19 de junho caia entornando no horizonte as lágrimas de um adeus em meio à folia... Eu me aprontava para o ARRAIÀ BIZACO DA VILA, me coube levar a triste noticia aos velhos MESTRES que comigo vibraram com idéia de nosso arraiá. Após a missa na capela de São João, como arauto portador de maus presságios, comunicamos a todos que se acercavam da capela, que a morte calara a nossa “COTOVIA”. E sob a comoção do momento agradecemos a Deus o legado Cultural que a mesma nos deixara, um minuto de silêncio, a seguir de uma torrencial chuva de palmas, para aquecer-lhe a alma enquanto seu frágil corpo esfriava no Outeiro.

Dona Militana agora se junta a outras figuras como Patativa do Assaré, Fabião das Queimadas Elino Julião, nosso tão querido Mestre Correia a Chico Antonio que teve Mário de Andrade para projeta-lo pro Brasil e no Mundo e a seu Cornélio Campina Mestres que como ela de vida humilde, pobres de recursos materiais, porém de riqueza cultural incomparáveis! Ela nasceu Militana Salustino do Nascimento, se tornou conhecida como Dona Militana, a maior Romanceira do Brasil. Militana nasceu no sítio Outeiro, na comunidade de Santo Antônio dos Barreiros, em 19 de março de 1925. O dom do canto ela herdou do pai, Atanásio Salustino do Nascimento, uma figura folclórica de São Gonçalo, mestre dos Fandangos. Dona Militana gravou na memória os cantos executados pelo pai. São romances originários de uma cultura medieval e ibérica, que narram os feitos de bravos guerreiros e contam histórias de reis, princesas, duques e duquesas. Além de romances, Militana cantou e encantou com modinhas, coco, xácaras, moirão, toadas de boi, aboios e fandangos. Guardo comigo para ilustrar os meus anais bibliográficos esta foto, relembrando a resistência de uma grande mulher Negra do Rio Grande do Norte.

Deth Haak com Dona Militana

Nossa sempre Cotovia.


Tinha medo de as asas bater,
Para alem do além infinito
Seu medo mas que esquisito.
Deixar a Benedita sem crer
Que o amanhã seria bonito
Adeus à vida e ao seu sitio
E ao povo, hoje faço saber
Estando calado o seu rito
Que artista pobre ou rico
Só é reconhecido ao morrer!


Militana encantou no Outeiro
E pro Teatro foi levada
Morta foi reverenciada
Por seu vasto romanceiro
E pelos homens do poder
A bandeira foi hasteada
Parece contada piada
As coroas que pude ver
Dirão ó língua afiada
Tem a poetisa da lestada.


Vide a morte de o não viver!
Tivessem lhes dado em vida
O que em vida tanto nos deu
Talvez bem longe de Morfeu
Não lhes chorasse a partida
De as asas quebradas ao breu
Nesta tarde que anoiteceu
Num vôo de volta sem ida
E ouço ainda no canto seu
Que a cultura entristeceu
Velando a malévola perfídia...

Sua cadeira seguirá vazia
Sobre a sombra da mangueira
Os troncos darão fogueira
Fagulhando a Poesia
Serás sempre a Romanceira
Lembrança da burguesia
Contada na freguesia
Que a deixou sem eira e beira
Como o fume que subia
Cachimbando a cotovia...


Uma Comenda é besteira...
Se a barriga esta vazia
O estomago ardendo azia;
Dona Militana, era faceira
Dizia o que bem queria;
A quem a porta ela abria
Se, Fandango lá na feira
Ou Romance medieval
Cantava em seu quintal
Pra sombra da mangueira!


Contava dos reis histórias
O que aprendeu com seu pai
Coco mourão- e por ai vai
Toadas de boi e as glórias
Dos bravos, e suas memórias
Entregues a Deífilo Gurgel
Na égide do Arcanjo Miguel
Perdemos um arquivo vivo;
Que de seus feitos farão livro
e de nossa Cotovia menestrel

Deth Haak


RECONHECIMENTO –Ao descobrir a preciosidade dos cantos de Dona Militana, na década de 90, o folclorista Deífilo Gurgel deu uma grande contribuição à cultura brasileira e permitiu que o país inteiro conhecesse o talento da filha da cidade de São Gonçalo do Amarante. A romanceira chegou a gravar um CD triplo intitulado “Cantares”, lançado em São Paulo e Rio de Janeiro. Críticos e jornalistas de grandes jornais brasileiros se renderam aos encantos e a peculiaridade da voz de Dona Militana. Em setembro de 2005 aconteceu o momento mágico quando ela recebeu das mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Comenda Máxima da Cultura Popular, em Brasília. Mas o reconhecimento financeiro para esta festejada romanceira só veio em 2009, com o Projeto de Lei Complementar encaminhado pelo prefeito de São Gonçalo, Jaime Calado, e aprovado pela Câmara Municipal do município que concedeu uma pensão vitalícia.
Disse Deífilo Gurgel em sua homenagem no velório, que o governo federal rendeu à romanceira, a Comenda do Mérito Cultural e destacou a sua importância. "Trata-se de uma condecoração oficial concedida a pessoas como Chico Buarque de Holanda e Oscar Niemeyer. Ela foi igualada aos grandes nomes da cultura de nosso país", disse Gurgel ao teatro lotado. O folclorista afirma que ela sabia não apenas romances, mas também adotava outras formas de manifestações culturais. "Dona Militana tinha uma memória incrível. Em uma pesquisa recente, constatei que nenhuma das romanceiras nordestinas tem uma gama de romances tão grandes quanto ela", declarou.Adeus adeus Militana, adeus adeus madrugada de hoje adeus, não posso. mas demorar, até qualquer dia, quando for eu a escolhida pra botar versos no céu...
O diretor teatral Véscio Lisboa, que fez peças inspiradas na obra de Militana, disse que "viajou na beleza dos romances e os transportou para o século XXI".

Dona Militana felizmente encontrou Deífilo Gurgel! Maravilhosos e
antológicos são os discos gravados pelo selo Nação Potiguar do
Dácio/Candinha. O CD triplo Cantares de Dona Militana e belo encarte, com as participações do mestre Salustiano tocando a rabeca pernambucana Eusébio Macambira e o sanfoneiro Luizinho Calixto com a participação erudita da Orquestra Sinfônica do RN com regência de Osvaldo D’Amore, e a pianista Dolores Portela tocando o cravo responsável também pelas partituras dos romances.
O romance de Dona Militana com a vida se tornou menos musical nos últimos dias. Desde o ultimo domingo, a maior romanceira do Brasil estava praticamente muda e sonolenta. As cantorias que um dia lhe renderam comenda nacional entregue pelas mãos do presidente Lula, em Brasília, calaram de uma vez, e aqui ficam restritas aos CDs já gravados com 33 raridades poéticas musicados da Idade Média - época das Cruzadas. A guardiã deste tesouro medieval repassado pelo pai Atanásio Salustino durante a colheita na roça, desafinou a viola e pos tudo num só saco, o abandono do poder o descaso com a arte os cachês que não recebeu , dentes que Candinha Bezerra prometeu e nunca deu e os CDS que não chegaram as suas mãos para repassar aos seus, enfim desencantada, morreu!
Deixou-nos algumas dezenas de peças raras dos romanceiros ibéricos e brasileiros.”

Deth Haak
" A Poetisa dos Ventos"
Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN
Cônsul Poeta Del Mundo

SAIBA MAIS SOBRE DONA MILITANA EM...
NOTAS VERSEJADAS
http://notasversejadas.blogspot.com/2010/06/calou-se-cotovia-potiguar.html

2 comentários:

  1. Bênçãos querida Poetisa! Obrigado pela divulgação, os operários sem salários da Cultura do Rio Grande do Norte enlutados agradecemos o aporte dessa nota no Lusofonia. Beijos Deth Haak " A Poetisa dos Ventos"

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