São Luís do Maranhão: forte francês, mas traça portuguesa, com certeza
A capital do Maranhão, São Luís, completa nesta quinta-feira (8) 399 anos com muitas dúvidas sobre se é realmente de origem francesa - como se começou a dizer apenas a partir de finais do século XIX, começos do século XX - ou se é na realidade mais um município de origem lusitana entre tantos e tantos outros Brasil afora.
Pesquisadores universitários atribuem, comm efeito, a fundação da cidade a Jerónimo de Albuquerque Maranhão, um mameluco português nascido da relação entre um português e uma indígena.
Os primeiros questionamentos surgiram há exatos dez anos com a professora da Universidade Estadual do Maranhão Maria de Lourdes Lauande Lacroix em seu livro “A fundação francesa de São Luís e seus mitos”.
Segundo ela e outros pesquisadores ligados à Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e à Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o aniversário de São Luís passou a ser comemorado dia 8 de setembro somente a partir de 1912.
Até então, foram 300 anos sem qualquer tipo de festividade. Por outro lado, os livros de história nunca trataram os franceses como “fundadores” e sim como “invasores”. Além disso, o 8 de setembro era conhecido em São Luís como “Dia da Natividade de Nossa Senhora”...
No início do século XX, o pesquisador José Ribeiro do Amaral, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras (AML), escreveu o livro “A Fundação do Maranhão” que apontava como marco de fundação da cidade a missa celebrada pelos padres capuchinhos franceses quando chegaram à então ilha de Upaon-Açu, em 1612. Oficialmente, os franceses chegaram dia 8 de setembro, mas essa missa aconteceu somente dias depois conforme Maria de Lourdes Lauande Lacroix.
Todavia, documentos históricos dos primeiros franceses que chegaram ao Maranhão nunca referem o termo “fundação”. Existia sim a intenção de se fundar a França Equinocial e para isso transformar São Luís numa cidade. Mas essa intenção nunca saiu do papel. Os portugueses expulsaram os franceses da então Ilha de Upaon-Açu antes dos gauleses colocarem o seu plano em prática.
Segundo o documento “História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, os franceses chegaram à Ilha de Upaon-Açu em julho de 1612, chefiados por Daniel de La Touche. Os gauleses construíram um forte onde hoje está localizado o Palácio dos Leões, sede do governo do Estado. O forte foi batizado de São Luís em homenagem ao “rei menino” Luís XIII. Eles também abriram algumas trilhas num raio de aproximadamente 30 quilómetros e ergueram alguns galpões improvisados e igrejas de taipa com a ajuda dos índios, mas não havia um projeto consistente de construção de uma cidade.
Azulejos portugueses nas fachadas de São Luís
Somente a partir da expulsão dos franceses pelos portugueses na Batalha de Guaxenduba em 1614/1615 é que a então Ilha de Upaon-Açu ganhou um planta elaborada pelo engenheiro-mor militar português Francisco Frias e Mesquita contendo um projeto arquitetónico e o arruamento original da cidade. Esse projeto é hoje o Centro Histórico de São Luís que mantém quase que em totalidade o seu projeto original. Sem casarões, azulejos ou monumentos de origem francesa.
Após expulsarem os franceses, os portugueses mudaram o nome do forte construído pelos franceses para São Felipe, mas, uma vez que os habitantes da ilha já se haviam acostumado com o nome São Luís, os lusitanos decidiram manter o nome dado pelos franceses ao forte, segundo alguns historiadodores.
A paternidade francesa de São Luís, conforme historiadores como Maria de Lourdes Lauande Lacroix, João Mendonça Cordeiro, entre outros, surge apenas no final do século XIX e início do século XX como forma de dar uma identidade à já decadente São Luís.
Essa ideia da fundação francesa surge também com o título de Atenas Brasileira, alcunha conferida pelos intelectuais da AML pelo fato de São Luís ter sido berço de escritores e historiadores importantes do século XIX. “Atenienses alienados, em busca de um presente glorioso como fora no passado a Atenas Brasileira, dominados pelo galicismo, criaram, em 1912, o mito da fundação francesa da cidade de São Luís”, relata Cordeiro.
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