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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Portugal está no DNA do Brasil


Com a devida vénia, transcrevemos na íntegra artigo do jornalista, teatrólogo e roteirista brasileiro José Eduardo Pereira Lima sobre as profundas relações existentes entre Portugal e o Brasil:

"Brasil e Portugal. Esse parentesco já está no DNA do brasileiro há muito tempo e é indissolúvel. A relação luso-brasileira me faz pensar num avô, pai ou irmão mais velho, que legaram aos seus ‘descendentes’ valores que colaboraram para sua formação.

Entre esses legados, destaca-se, indubitavelmente, a língua, e como disse Caetano Veloso em uma de suas composições, “a língua é minha pátria”, numa referência a um dos heterónimos (Bernardo Soares) do poeta Fernando Pessoa, que afirmou: “A minha pátria é a língua portuguesa“. Essa proximidade entre ambas as culturas facilitou a integração entre os dois povos.

Eça de Queiros dialoga com Machado de AssisFernando Pessoa e seus heterónimos trocam versos com os poetas brasileiros Carlos Drumond de Andrade, Manoel Bandeira, Cecília Meireles, Affonso Romano. José Saramago conversa com o jovem cineasta brasileiroFernando Meireles a fim de converter o Ensaio Sobre a Cegueira, romance do primeiro, em um filme dirigido pelo segundo.

Esse intercâmbio ou apropriação é antigo. Ao vir para cá, a corte portuguesa, cuja biblioteca musical era a segunda maior depois da do Vaticano, trouxe esse acervo, que foi assimilado por músicos mulatos ou negros.

A cultura brasileira, portanto, é uma continuidade da portugalidade nos trópicos. Essa é a grande diferença de outros grupos étnicos que para o Brasil vieram, mas mantém até hoje uma ligação com a terra de origem, como é o caso dos nipo-brasileiros ou ítalo-brasileiros.

Estima-se que há no País 25 milhões de luso-brasileiros descendentes dos cerca de 1,5 milhão de portugueses que chegaram ao Brasil após 1850. Moram por aqui mais de 700 mil portugueses, que, em sua maioria, imigraram entre 1930 e 1960. Atualmente, além dos empresários da área de turismo que investem em hotéis, resorts e pousadas no Nordeste, jovens músicos lusitanos gravam fados no ritmo da bossa nova.

E para ratificar essa fértil simbiose entre as duas culturas, vale lembrar os versos que o poeta brasileiro Vinícius de Morais criou para suas “Saudades do Brasil em Portugal”: Pudesse eu dizer / da dor que dói dentro de mim / que mói meu coração nessa paixão que não tem fim / Ausência tão cruel / Saudade tão fatal / Saudades do Brasil em Portugal."
 

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