8-12-1894, Vila Viçosa
8-12-1930, Matosinhos
8-12-1930, Matosinhos
Algures no plaino invernoso,
uma flor brotou, espontânea e silvestre.
Olhou em redor,
aspirou os aromas do natal próximo.
Nem por isso se sentiu menos isolada.
Estames e estigmas tentaram o diálogo.
Terminou em solidão.
Essa flor, a única que enfeitava a charneca,
tal como um só farrapo
de nuvem rompia a monotonia celeste,
trazia consigo um firme propósito:
Viver. Viver plenamente.
Como se tal fosse possível
para quem nasce e vive fora do seu tempo!
Prenúncio de luta desigual,
inconformista e frenética.
Não desistiu.
Várias vezes passaram as quatro estações.
Delas sorveu os néctares
e os guardou no sacrário do seu gineceu.
As pétalas permaneciam secas
quando mais precisavam
dum orvalho regenerador.
Fazia-se tarde na vida,
a esperança fenecia.
Olhou em redor,
aspirou os aromas do natal próximo.
Nem por isso se sentiu menos isolada.
Estames e estigmas
abraçaram-se num amplexo de despedida.
Serenamente
se deixou estiolar e morreu.
De saudade.
joaquim evónio
(Vila Viçosa, 8.12.98)
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À Florbela, minha Irmã
Dedos receosos e famintos
buscaram harmonia nos teus seios.
buscaram harmonia nos teus seios.
Descobriram contornos perenes
e titilaram erecções estonteantes.
e titilaram erecções estonteantes.
Lábios loucos morderam
e beijaram, sofregamente lentos.
Um ardor incestuoso
irrompia das fragas vizinhas.
irrompia das fragas vizinhas.
Pouco importava,
no calor da charneca,
fria solidão nas almas.
no calor da charneca,
fria solidão nas almas.
Juntaram-se as bocas,
comunhão dos espíritos.
comunhão dos espíritos.
Deram-se as mãos,
entrelaçaram-se braços
e corpos que tanto se haviam desejado.
A viagem prosseguiu
pelos anseios dos vultos nus.
pelos anseios dos vultos nus.
Nasceram oásis,
floresceram rosas.
floresceram rosas.
Silêncio da noite,
carícias ardentes.
carícias ardentes.
A paisagem invejava
a delícia do encontro,
projecção do eterno.
a delícia do encontro,
projecção do eterno.
Aconteceu amor.
Para sempre.
Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1998
joaquim evónio
joaquim evónio
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JOAQUIM EVÓNIO
Poeta e Escritor, que nasceu na Ilha da Madeira
e vive atualmente em Lisboa.
Coronel do Exército aposentado
e mediador do blogue:
VARANDA DAS ESTRELÍCIAS
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Uma Ponte sobre os Oceanos
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