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terça-feira, 27 de março de 2012

V I T R I N E - POEMA DE LÚCIA HELENA PEREIRA, DE CEARÁ-MIRIM/RN - BRASIL

VITRINE 

Achei-me linda nessa vitrine,
Meus 66 anos com rugas e achaques da velhice
Uma cabeça ainda cheia de sonhos,
Alegrias festejadas,
Tristezas choradas.

Alguém me colocou numa vitrine
E eu gostei demais
Nela, os meus cabelos ralos,
Missangas prateando o quase louro que não tenho,
Mas, para esconder o outono chegando forte
Jorginho Barbosa me ajuda a disfarçar.

Nem preciso de disfarce
A idade chega e me olho numa vitrine verde,
Como o vale onde nasci,
Em busca deles, de todos eles
E não os encontro, só na memória festiva.

A minha vitrine está cheia de flores,
De mil pétalas sobrevoando
Resistentes às intempéries
Salvando cores e aromas.

Minha vitrine tem de tudo
Num cristal de luz e sol de final de março,
Onde meus pais vão ressurgindo
De mundos distantes
Embalando-me no berço eterno da saudade.

Quero poder mirar-me sempre numa vitrine de azul opalina
Ver os meus filhos pequeninos
Mas, poder beijar o olhar doce e bom do meu neto,
Filho do meu filho e de uma moça bonita,
Um neto que me deu a mais bela vitrine do mundo:
O seu beijo de amor.

De minha vitrine lilás posso ver os mortos recentes
E chorar sozinha, embriagando-me dos seus valores
Que o mundo não mais terá,
Que o tempo vai eliminar,
Apenas registrando em biografias
E...talvez, livros e livros.

Deus sabe quanto chorei a partida
Daquela sorriso do tamanho do Brasil,
Do Chico cearense gargalhada-talento.
Mas, de todo, nada está perdido,
Restou outro Chico - o poeta que escreveu "Carolina"
E faz a música-poesia!

Na minha vitrine cabe muita gente,
Não tenho nomes, tenho lembranças
Guardadas, protegidas, diletas.
Nomes do alfabeto da afeição,
Batizados em meu coração,
Como aqueles que aprendi a amar.

Vou guardar minha vitrina,
Apagar a luz e fechar a porta,
Sair um pouco,
Dançar ao som de Dodora Cardoso e Marina Elali,
Enquanto dou uma revisada em meu livro,
Sobre Juvenal Antunes,
Que o Acre tanto amou,
Que Ceará-Mirim respeita
E o Rio Grande do Norte precisa lembrar
E enaltecer!

As luzes se apagaram...
Fecho os olhos...
Nenhuma imagem restou...
Apenas sombras...sombras...sombras!

Lúcia Helena Pereira
26 de março de 2012

LÚCIA HELENA PEREIRA
"Poetisa das Flores"
Créditos da foto: Luiz Henrique de Almeida
 
FONTE: Blogue OUTRAS & OUTRAS  

2 comentários:

  1. OBRIGADA CEICINHA, FICOU LINDO E OPORTUNO PARA A CARAPUÇA DO MALDITO QUE MEXEU COMIGO E PEDRO SIMÕES.

    LU

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  2. Belo poema e bela imagem de Lúcia Helena com os cabelos ao vento.

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