VITRINE Achei-me linda nessa vitrine, Meus 66 anos com rugas e achaques da velhice Uma cabeça ainda cheia de sonhos, Alegrias festejadas, Tristezas choradas. Alguém me colocou numa vitrine E eu gostei demais Nela, os meus cabelos ralos, Missangas prateando o quase louro que não tenho, Mas, para esconder o outono chegando forte Jorginho Barbosa me ajuda a disfarçar. Nem preciso de disfarce A idade chega e me olho numa vitrine verde, Como o vale onde nasci, Em busca deles, de todos eles E não os encontro, só na memória festiva. A minha vitrine está cheia de flores, De mil pétalas sobrevoando Resistentes às intempéries Salvando cores e aromas. Minha vitrine tem de tudo Num cristal de luz e sol de final de março, Onde meus pais vão ressurgindo De mundos distantes Embalando-me no berço eterno da saudade. Quero poder mirar-me sempre numa vitrine de azul opalina Ver os meus filhos pequeninos Mas, poder beijar o olhar doce e bom do meu neto, Filho do meu filho e de uma moça bonita, Um neto que me deu a mais bela vitrine do mundo: O seu beijo de amor. De minha vitrine lilás posso ver os mortos recentes E chorar sozinha, embriagando-me dos seus valores Que o mundo não mais terá, Que o tempo vai eliminar, Apenas registrando em biografias E...talvez, livros e livros. Deus sabe quanto chorei a partida Daquela sorriso do tamanho do Brasil, Do Chico cearense gargalhada-talento. Mas, de todo, nada está perdido, Restou outro Chico - o poeta que escreveu "Carolina" E faz a música-poesia! Na minha vitrine cabe muita gente, Não tenho nomes, tenho lembranças Guardadas, protegidas, diletas. Nomes do alfabeto da afeição, Batizados em meu coração, Como aqueles que aprendi a amar. Vou guardar minha vitrina, Apagar a luz e fechar a porta, Sair um pouco, Dançar ao som de Dodora Cardoso e Marina Elali, Enquanto dou uma revisada em meu livro, Sobre Juvenal Antunes, Que o Acre tanto amou, Que Ceará-Mirim respeita E o Rio Grande do Norte precisa lembrar E enaltecer! As luzes se apagaram... Fecho os olhos... Nenhuma imagem restou... Apenas sombras...sombras...sombras! Lúcia Helena Pereira 26 de março de 2012 |
LÚCIA HELENA PEREIRA "Poetisa das Flores" Créditos da foto: Luiz Henrique de Almeida |
OBRIGADA CEICINHA, FICOU LINDO E OPORTUNO PARA A CARAPUÇA DO MALDITO QUE MEXEU COMIGO E PEDRO SIMÕES.
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Belo poema e bela imagem de Lúcia Helena com os cabelos ao vento.
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